Sunday, October 29, 2006

Praguejo sem nome no 5

Para que tanto escrever a respeito, páginas e palavras, folhas e folhas de papel, tinta de canetas, de impressoras. Tanto mato cortado, tanto mato espremido, tanta pedra moída até o pó. Tanta água para dissolver o pó.
Para que tanto escrever, o que não se pode descrever assim, de súbito.
Porque essa palavra, chavão, derretida. Usada e largada, na boca de tanto ator ruim da Globo. Na voz de tantos goianos e texanos sem talento. Por que essa inundação cancerígena do espectro eletromagnético, banalizando isso que não podemos exprimir?.
Ficássemos com Bill, o Trovador, daria na mesma?
Os simples de espírito – e pobres de bolso não o entenderiam? Se ele fala a língua deles – não é só traduzir aqui e ali, que dá?
Por que tanta dor, tanto calor vira tanto lixo?
Algum mais além do Bill! Sim, escrito ou filmado, tantos chegaram perto, mais perto que o Manoel Carlos. Talvez pela sinceridade, talvez pelo choque, mas a velhinha em cinco minutos disse muito mais que quinze novelas do Manoel e trinta da Glória. Para que ser artista se não consegue ser melhor que a realidade?
E quando anoitece, voltamos para a solidão de nossos quartos, para o solipsismo de nossos sonhos. E cadê o Manoel, cadê a Glória?
Onde o Bill, Onde o Byron? Onde o Álvaro?
E quando os sonhos não vêm, quando os desejos queimam, por quê Romeu? Por quê Julieta? Nessas horas, alguns apelam para a tristeza técnica de um Fernando Paciência, reprimindo aquilo que matou o Anteneu. Outros para as Sabrinas de papel jornal. Os mais refinados para Clarice. E isso não tem nada a ver com orientação, não entendam errado.
E aquele fogo, roubado pelo Renato? Onde Camões? No fundo do mar é lá que está.
O mundo hoje, os críticos querendo ou não, é Vinícius, é Brecht. Provisório até, senão mais.
O mundo é mais que a palavra, o mundo é sangue suor e lágrimas.
E só assim que é bom.
Queimando brilhante nas florestas da noite; e simétrico.