Saturday, July 30, 2005

Que nem a música do The Who

Substitutos do humano, perambulavam pelas calçadas em busca de um gole de água, pura, inodora, mineralizada como o asfalto poluído. Substitutos! Era isso que lhes restava ser. Pois o homem, o humano, não mais estava presente. O homem, aquele que tinha criado tudo aquilo desaparecera.
Um cafezinho, um pão, uma bolacha, um bischcoito. Não importa em que língua, um refri, um refreshco! O horizonte alimentar dos substitutos era o das propagandas baratas nas contra-capas de revista. Dos sucos Tang açucarados, dos Guaranás Bacanas da vida; das bolachas Mirabel recheadas, com um buraco vazio no meio do recheio.
Substitutos no trabalho, camelôs de segunda mão, quando o titular foi no banheiro; essa foi a sua origem: estagiários, temporários, contínuos, rapazes de recado, diaristas, todos substitutos. Todos feitos de paisagem, personagens de fundo da tela, sem nenhuma linha escrita pelo criador humano.

E agora, o homem desaparecera. Os substitutos eram os donos do mundo...

Um mundo substituto. Fora o que restara do planeta. Não havia mais a autenticidade romântica de uma natureza primária. O mundo era mais coisa, mais mecanismos, mais humano, do que contingência. O mundo era razão. Peças de lego, plástico desperdiçado, desarrumado na lata do lixo da história. Sobras no prato dos substitutos. Era isso que o homem lhes deixara.
E onde estava o homem? Perdido em seu labirinto de certezas e riquezas. Corrupto como uma ceroula com fungos. Chafurdando na cultura produzida por séculos de especulação e experimentação racional. Procurando Deus em si mesmo, o homem tinha achado o diabo dos substitutos, que poderiam fazer tudo que sua paranóia ordenasse. Os substitutos, menos que homens, menos que escravos, notas de rodapé da humanidade. E o homem, assim saía da vida para entrar na história.
Criou substitutos de todas as classes e raças. O mundo substituído. O homem eternizado como um super-homem.
O mundo profanado, como só um mundo sensível pode ser.
O homem divinizado, como nem mesmo a mais louca nobreza aristocrática conseguiria pensar. O homem divino de Comte. Então, só restaram os restos – et cetera.

Gritaram do crepúsculo até a aurora dos tempos:
Somos os substitutos. Não há mais homem. Somos os donos do mundo!
Somos agora apenas gordura vegetal!
Somos agora apenas gordura vegetal!


Fade to black

.